Querida família hospedeira,

Vamos continuar um pouco da nossa viagem sobre as diferenças culturais e o porquê da importância de viver uma experiência como a que o AFS proporciona.

Alguns posts atrás, falamos sobre algumas metáforas da cultura. Concluímos que existe muito além dos comportamentos visíveis que observamos; existe na realidade uma camada mais profunda do “iceberg”, que vai permitindo gradualmente conhecer mais sobre cada cultura e aquilo que está na sua base.

Muitos dos nossos estudantes também quando chegam ao final do intercâmbio relatam que perceberam aspetos estruturais da cultura brasileira com o tempo. A importância da família, a forma de se relacionar, a forma de agir perante os problemas, a forma de comunicar…
Mais do que comportamentos visíveis, eles estão falando na realidade sobre os valores da sociedade brasileira, que diferem das suas próprias culturas.

Do que estamos então falando quando falamos em valores?

A forma de pensar sobre o papel da família, sobre a amizade, sobre as relações, sobre o nosso papel na sociedade… Muitas vezes inconscientemente temos a nossa forma de agir relativamente a essas questões e não imaginamos a influência cultural que sofremos.
Hofstede, um psicólogo social holandês, define algumas dimensões culturais que influenciam nesse campo. O autor diferencia sociedades individualistas de outras mais coletivistas. Por exemplo, em sociedades mais individualistas, considera-se família imediata pai, mãe e irmãos. Em contrapartida, sociedades mais coletivistas, consideram também avós, tios e primos. Diferencia também sociedades com maior distância ao poder de outras com menor distância ao poder. Enquanto no Brasil chamamos os professores pelo primeiro nome ou por apelidos, em outros países chama-se de “senhor”/”senhora” e o sobrenome.

Hofstede faz ainda referência a outras questões como: como lidar com a incerteza e com a imprevisibilidade, como lidar com a necessidade de planejamento ou realização imediata dos projetos pessoais… Por isso, é importante criarmos uma maior abertura e compreender determinadas formas de expressão dos estudantes que têm relacionamentos diferentes nas suas culturas e por isso não correspondem algumas vezes aos nossos padrões sociais. Até a forma de comunicar pode ser diferente. Existem culturas que expressam as suas emoções de forma muito mais aberta e clara; outras que hesitam em demonstrar emoções e falar de forma tão objetiva.

É interessante notar que valores podem ser importantes para duas culturas diferentes, mas serem demonstrados de formas totalmente opostas. Por exemplo: enquanto no Brasil demonstramos respeito olhando diretamente nos olhos de quem está falando, na Tailândia respeito demonstra-se não olhando diretamente nos olhos (olha-se normalmente para baixo).

Gradualmente a família hospedeira e o estudante se conhecerão e entenderão melhor os valores e a expressão deles em geral. Para que isso aconteça, é preciso quebrar barreiras, abrir se para a visão do outro e dar a conhecer a nossa. Porque aquilo que não é expresso em palavras está subentendido nos nossos comportamentos e será apenas compreendido com a convivência e com o tempo.