“Eu lembro quando eu cheguei no Galeão com a minha mãe e fiquei um pouco assustada, pois apenas eu e mais uma garota iríamos para a Rússia, enquanto mil outros intercambistas se reuniam para voar à Bélgica, França, e vários outros países. Mas é isso mesmo quando a gente escolhe um destino menos popular.

Quando eu desembarquei em Moscou, a primeira reação foi de extrema e pura animação. Tentava ler as placas de direcionamento que nos levavam à alfândega, mas por não saber nem as letras do alfabeto, nem isso foi possível. Tivemos um primeiro contato com as voluntárias que nos esperavam na ala de desembarque, e foi muito aconchegante ver a camiseta com os dizeres ‘AFS’.

Após 3 dias em um acampamento de chegada, voamos para a minha cidade, Ecaterimburgo. No avião lembro de ficar meio incomodada: eu havia feito amizade com muitos outros AFSers, mas não estava me dando muito bem com os outros 4 que viveriam na mesma cidade que eu. Pegamos as malas e ao cruzar o portão de desembarque, deparamo-nos com cartazes e dizeres em russo “bem-vindos”, abracei minha mãe, que tinha um sorriso amável, e minha irmã que tentava falar um pouco de inglês, e fomos para o carro, onde esperava o meu host dad, ele era bem alto e careca, e à primeira vista era um pouco intimidador. No início minha mãe pedia que minha irmã traduzisse tudo, mas com o tempo ela foi se irritando, e eu queria testar minhas habilidades com a língua, e depois de um tempo minha família percebeu que eu já entendia e falava suficiente para manter uma conversa.

No final de outubro o inverno começou, e caiam metros e metros de neve. Foi uma experiência muito legal de se viver, contudo dificultou minha vida, já que eu tinha que pegar 40 minutos de ônibus após as aulas de kickboxing que acabavam às 20h, e depois caminhar mais 20 minutos. Com a neve, e o sol se pondo mais cedo, ficou complicado ter que me locomover até a casa, e depois de muito tempo de conversa e choro eu mudei de família.

Minha nova família era composta por uma mãe, uma irmã que havia passado um ano na Alemanha e um irmão, que estava na China fazendo intercâmbio, portanto não nos conhecemos. Eles já haviam recebido 5 intercambistas, e os dois últimos anos haviam sido um tanto conturbados, logo, minha mãe estava, de certa forma, cansada de hospedar tantos anos seguidos. Sempre tentei meu máximo para ‘não dificultar’ as coisas, e trazer uma nova boa experiência para essa família, e isso foi difícil, pois não havia nenhum feedback explícito. Eu só fui perceber que eles realmente gostavam de mim do mesmo tanto que eu gostava deles quando jantamos em um restaurante típico russo na minha última noite em Ecaterimburgo, eles choraram, e eu chorei.

Durante esse ano, criei laços muito fortes com alguns voluntários, principalmente meu close contact, viajei por várias partes da Rússia, do Mar Negro à Sibéria, eu e meus companheiros de experiência ficamos amigos, e rimos até hoje, pois descobrimos que o desgosto no começo vinha por parte de todos, fiz amigos russos, com quem compartilhei mais do que poderia imaginar, mantive contato com a 1ª família, e posso dizer que tive sorte em ter duas famílias tão incríveis com quem compartilhei esse ano, conheci uma cultura nova, pela qual me apaixonei, aprendi uma língua nova, e mudei tanto que as vezes é até difícil de entender quem era a Juliana e quem virou a Juliana, mas de forma alguma me arrependo. Uma coisa que a Rússia me ensinou é que “Não é bom, não é ruim, é apenas diferente.” – Juliana Rossi Brederode Sihler, AFSer na Rússia em 2017