Quando falamos em convívio e Aprendizagem Intercultural, diversas questões surgem. Falamos em postagens anteriores que existem características culturais comuns às sociedades. E a partir daí, leva-nos a inferir que em geral, as pessoas daquela sociedade em particular terão os mesmos hábitos, a mesma forma de pensar, de agir…

Aqui entramos num campo perigoso.

Muitas vezes, ao categorizar as pessoas numa característica comum, criamos ESTEREÓTIPOS – achamos que todas as pessoas daquela comunidade têm os mesmos comportamentos. Essa visão nos torna inflexíveis perante as diferenças e isso acaba gerando preconceito.

Exemplos de estereótipos? Temos vários casos de estudantes que se sentem magoados ao ouvir “ah, tinha que ser brasileiro”. “Brasileiro é assim”. “Isso é coisa de brasileiro, aqui a gente não faz isso”. E estereótipos nossos relativamente aos estrangeiros? “Os alemães são arrogantes”. “Os italianos são muito extrovertidos”. Observa-se que os estereótipos podem magoar e não são totalmente correspondentes à realidade.

Na verdade, os alemães podem não ser arrogantes mas apenas têm  uma comunicação direta que o brasileiro não está acostumado. Alguns italianos podem ser mais introvertidos. E o brasileiro… Bem o brasileiro pode ser proveniente de um estado entre 26… Logo… Imagine  quantas diferenças temos em nosso próprio país, né?

Tudo isso para dizer que numa experiência intercultural, ao receber um estudante nas nossas casas, precisamos acima de tudo de muita abertura, de flexibilidade e de suspender os julgamentos.

Mas então, e a teoria do iceberg, da cebola….? E as características culturais que falamos, os valores….?

Podemos fazer GENERALIZAÇÕES. Assumir que existem características comuns, criar hipóteses, mas não assumir isso como verdade absoluta e não impor uma carga negativa a essas características. Generalizar nos ajuda a compreender mas também nos permite ser flexíveis. Por exemplo, em vez de dizer que todos os americanos só comem fast food, podemos pensar que a fast food tem muita presença nos EUA, mas que cada vez mais as pessoas se interessam pela sua saúde e adotam comportamentos mais saudáveis.

A simples definição de estereótipos e generalizações talvez não evidencie como podemos agir de forma a favorecer a experiência intercultural. É aconselhável uma reflexão sobre a natureza das expectativas criadas, para melhor entender porque as generalizações são aceitáveis, enquanto os estereótipos são um estreitamento da percepção, que devemos evitar.

Em suas reflexões, o autor Niklas Luhmann ressalta dois principais tipos de expectativas: cognitiva e normativa.  Afirma então, que só será possível caracterizar as expectativas no momento em que ocorre a frustração.
Deste modo, quando vivenciamos a frustração de forma adaptável, percebendo e aprendendo os sistemas existentes entre as expectativas criadas e as frustrações resultantes, estamos diante de uma expectativa cognitiva. Por outro lado, se ao experimentarmos a frustração seguimos protestando e gerando mais sofrimento às relações interpessoais, percebemos então que esta, seria uma expectativa normativa.
Luhmann conclui que a melhor forma de evitarmos a frustração é a criação participativa de normas, que ajudem um indivíduo a prever quais expectativas seriam normativas na interação social. Podemos adaptar este modelo à realidade da família hospedeira, na tentativa de criar regras de convivência com um olhar respeitoso à individualidade de cada membro desta relação.

Essa é a essência de uma experiência intercultural. Se todos podemos nos adaptar, todos podemos mudar e partilhar um pouco da nossa cultura para que o outro também aprenda coisas novas. Nesse contexto, os estereótipos perdem a sua força.

Quando receber um intercambista, abra as portas para a novidade e para outras formas de ver o mundo, para o que aquela pessoa tem de único e partilhe também o que a sua família tem de único!