Em 2020, qual é a responsabilidade do AFS em relação ao impacto do carbono causado pelas viagens de intercâmbio de seus estudantes? A logística por trás da busca de soluções sustentáveis e alcançáveis pode ser um desafio para uma organização com operações em 60 países e programas de intercâmbio em 99 países. No entanto, nossos voluntários e funcionários estão conscientes das questões ambientais, a organização está ciente de que a mudança climática é mundialmente reconhecida como a pauta mais urgente dos tempos modernos e que devemos agir.

Podemos adaptar a viagem dos participantes para o exterior para ter mais consciência ecológica? A estudante sueca e ativista climática Greta Thunberg acredita que podemos. Com apenas 16 anos de idade, Thunberg ganhou as manchetes ao viajar em um veleiro sustentável (zero carbono) da Europa para os Estados Unidos para participar da Cúpula do Clima da ONU de 2019 em Nova York. Alguns podem ver seus métodos de aumentar a conscientização global sobre os riscos apresentados pelas mudanças climáticas como extremas, mas ela certamente está causando impacto mesmo sendo tão jovem.

Fotografias, folhetos, itinerários, etiquetas de bagagem e outros documentos nos arquivos do AFS ajudam a relembrar um momento da história da organização em que as viagens de navio eram comuns. O AFS operou viagens de barco entre os Estados Unidos e a Europa por 22 anos, desde o primeiro programa de intercâmbio de estudantes em 1947 até o verão de 1969. Esses barcos viajavam para e dos EUA e norte da Europa; ao chegar aos EUA, os alunos eram recebidos no cais por voluntários do AFS e chegavam aos seus destinos de trem ou ônibus. Em 1969, com exceção de algumas viagens entre os EUA e o Canadá, os participantes do AFS viajavam exclusivamente de avião. David Danby, que trabalhou na indústria de viagens a maior parte de sua vida e esteve envolvido com o Departamento de Viagens do AFS por muitos anos, lembra dessa mudança vividamente.

Esta fotografia foi recentemente doada aos arquivos do AFS por Mary Hope Griffin e mostra seus pais acompanhando um grupo de participantes do programa de verão a bordo do Seven Seas em junho de 1965. Seu pai, Gerald J. Griffin, era motorista do AFS durante a Segunda Guerra Mundial antes de se envolver com os programas de intercâmbio da organização. Digitalização cortesia dos Arquivos de American Field Service e AFS Intercultural Programs.

Os pais de Danby frequentemente ajudavam nas viagens de ônibus do AFS e participavam regularmente de reuniões locais. Danby foi voluntário no escritório do AFS em Nova York e Cleveland, Ohio. Entre 1969 e 1979, ele ocupou vários cargos de meio período e período integral no Departamento de Viagens do AFS, atuando até como gerente do departamento no final da década.

Quando Danby ingressou no Departamento de Viagens do AFS, período em que as viagens de navio do AFS deram lugar a voos fretados, as passagens, especialmente as tarifas só de ida, eram muitas vezes extremamente caros, pois naquela época o setor de aviação nos EUA era altamente regulamentado pelo governo federal. No entanto, tudo isso mudou em 1978 com uma lei que introduziu um mercado livre no setor de companhias aéreas comerciais, levando a um aumento considerável no número de voos e no número de passageiros e milhas. O impacto que esse número sem precedentes de voos teria no meio ambiente não teria passado despercebido. Com eventos como o estabelecimento do primeiro Dia da Terra, em 22 de abril de 1970, as pessoas se conscientizaram dos vínculos entre questões ambientais e saúde pública. Os americanos sentiram uma necessidade crescente de se tornarem politicamente mais ativos, a fim de proteger a beleza natural de seu país. Como acompanhante em muitos dos voos e viagens de ônibus do AFS, Danby disse que na época os estudantes que viajavam para cidades da Costa Oeste, como San Francisco, tiveram a oportunidade de conhecer grande parte da paisagem de tirar o fôlego dos EUA, incluindo as montanhas rochosas e o deserto de Nevada, bem antes de chegar às casas das famílias hospedeiras.

As longas viagens de ônibus do AFS permitiram que participantes de todo o mundo interagissem, compartilhassem refeições e explorassem diversas regiões dos EUA. Os estudantes internacionais ainda tiveram a oportunidade de se reunir com seus grupos de orientação e conhecer os principais líderes dos EUA, incluindo presidentes, no período em que o AFS estabeleceu suas reuniões “Midway” em 1954 em Washington e Nova York. Mais tarde, esse evento ficou conhecido como “Dia da Partida” ou “Dia D”. Danby se lembra de muitos desses eventos repleto de emoções quando mais de setenta ônibus chegavam entre 8h e 10h da manhã e os alunos compartilhavam suas experiências na América com outras pessoas antes de retornarem aos seus países de origem como cidadãos globais.

Danby testemunhou inúmeras mudanças no Departamento de Viagens do AFS, especialmente durante a década de 1970, período em que a organização passava por um grande crescimento e através do estabelecimento do Programa Multinacional do AFS – que permitia que os estudantes viajassem para outros países que não os EUA, o AFS tornava-se menos centralizado nos EUA. Inúmeras amizades interculturais se desdobraram enquanto ele permaneceu trabalhando no Programa de Viagens do AFS até meados dos anos 80. Ele se lembra com carinho de uma época em que comunidades inteiras estavam fortemente envolvidas com o AFS, as escolas secundárias tinham clubes e comitês locais com voluntários ativos e motivados e angariavam dinheiro para enviar estudantes de suas cidades para o exterior.

Participantes do AFS do ônibus 4 visitando a fábrica da Willys-Overland Motors em Toledo, Ohio em 1952. Fotografia da Hauger Photographic Corporation, Toledo, Ohio. Cortesia dos Arquivos da American Field Service e AFS Intercultural Programs.

Hoje, ele acredita que o tópico da sustentabilidade é importante e se pergunta se voltar a métodos mais lentos de transporte (como a viagem de barco pelo AFS) poderia ajudar a restabelecer um AFS mais orientado para a comunidade – estendendo a experiência do AFS para além do contato imediato com a família hospedeira. Alguns dos AFSers de hoje já estão optando pelo caminho “longo”: na França e na Suíça, por exemplo, os estudantes do AFS podem optar por pegar trens ao invés de voar para seus destinos – mesmo de Zurique a Oslo que é uma longa viagem de trem de 25 horas! Então as ideias do Danby ainda são atuais.

Enquanto isso, o AFS já deu um grande passo: a partir de 2021, compensará as emissões de viagens de seus principais programas de intercâmbio no ensino médio. Acredita-se que o AFS é a primeira organização internacional de educação a assumir esse compromisso em escala global. Esta é a primeira parte de uma Iniciativa de Sustentabilidade do AFS que será anunciada este ano para definir iniciativas sustentáveis que sejam significativas, alcançáveis e implementáveis para ajudar a cumprir nossas responsabilidades climáticas.

Texto original: AFS Explores Meaningful Sustainability for its Student Exchange Programs